[Resumo extraido da fonte]

A recente reedição de dois dos mais importantes textos de Jorge Dias, Vilarinho da Furna, uma aldeia comunitária e Rio de Onor, Comunitarismo agro-pastoril, primeiramente publicados, respectivamente em 1948 e 1953, veio chamar a atenção para a necessidade de a produção de conhecimento das Ciencias Sociais no nosso país se debrucar sobre o seu próprio percurso até à actual situação teórico-metodólogica, bem assim como sobre a concomitante imagen da realidade nacional (ou suas "parcelas") que tal caminho nos pretendeu oferecer. 

Em primeiro lugar, os autores procurarão analisar a teoria e o método de abordagem da comunidade que enformaram aquilo que o própio Jorge Dias, referindo-se à década de 50, designou como "período actual, etnológico, antropológico, cultural e social", mais concretamente sobre a abordagem sistemática do culturalismo e do método configuracionalista, aplicada aliás não só nos estudos antropológicos e comunidade mas também em algumas análises de sociologia rural, e suas limitações. 

Em segundo lugar, e apesar de tais limitações, os autores pensam que no domínio concreto do estudo do direito as pesquisas antropológicas da primeira metade do século, genericamente radicadas no funcionalismo, quer de Malinowski quer de Radcliffe-Brow, tiveram o grande mérito de levantar uma outra abordagem do fenómeno social "direito", à revelia do enfoque tradicional da dogmática jurídica, pondo em questão o próprio conceito de direito e erguendo a problemática do pluralismo jurídico na controvérsia mais vasta das relações entre direito e sociedade. A tal não escapa Jorge Dias nas suas descrições de Vilarinho da Furna e Rio de Onor, cuja estrutura jurídica, bem como a sua articulação com o direito estatal, se descreverá e analisará na parte final do artigo.