O objetivo do projeto Frontera hispano-portuguesa (FRONTESPO) é a documentação linguística exaustiva da franja fronteiriça entre Espanha e Portugal. Esta fronteira, um dos limites estatais mais antigos e estáveis da história, constituiu-se ao longo do tempo como um espaço de encontro e confluência de variedades linguísticas – com filiação, situação sociolinguística e enquadramento legal diferentes –, cujos limites nem sempre são claros nem concordam com a Raia política. Para além disso, a sua posição marginal relativamente aos principais núcleos urbanos reúne condições especiais para a conservação de estados de língua arcaizantes. Tem sido, também, um território de intensa mobilidade interpessoal, tanto temporal (jornaleiros, marinheiros, romarias, contrabando…) como permanente (casamentos mistos, emigração, exílio e refúgio, etc.).
Todas estas circunstâncias fazem com que a fronteira Portugal-Espanha seja um domínio privilegiado para a investigação linguística e etnográfica, sob variadas perspetivas.
A zona fronteiriça encontra-se sujeita a um processo evolutivo que está a transformar, de modo acelerado, a sua identidade cultural e linguística. Entre os múltiplos fatores de mudança podemos citar os seguintes: perda do modo de vida tradicional, despovoamento das terras do interior, emigração para as grandes cidades, supressão do controlo fronteiriço e livre circulação de mercadorias e trabalhadores, forte expansão dos meios de comunicação de massas e generalização da escolaridade.
Torna-se urgente, portanto, recolher informação sobre o território fronteiriço, para documentar o estado de vida tradicional e estudar o processo de mudança, assim como para valorizar o seu imenso património cultural, com o fim último de contribuir para a sua revitalização.