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Entre todos, contem c-, como é que era a vida... na sua infância, mais ou menos são todos de um tempo... [Emissão] e o que foi mudando até agora, quero dizer, na altura as pessoas viviam de que?
[Assent]
[Riso]
[Assent]
À lança, se diz [sic]?
[Assent]
Tinham algúm nome para, para essas coisas que botavam para, para os porcos?
Lavaduras.
Então é igual que na Galiza.
Lavaduras
Cocos.
Não, chamam... caba[θ]o ou calaba[θ]a.
[Assent]
[Riso]
[Riso]
[Riso]
[Riso]
Com certeza contaminava menos o, o rio.
É, isso, isso é assim.
[Riso]
[Riso]
E como é que se fazia a matança do porco?
[Assent] Como chamam, quando é pequenino... ?
Leitão.
[Assent]
[Assent]
[Riso]
[Riso]
[Assent]
[Assent]
[Assent]
[Assent]
[Assent]
Claro.
[Assent]
Mas maça-, maçarico é o que?
Ah, está, [Assent].
[Assent]
[Riso]
[Riso]
Para... [Assent]
[Assent]
Pronto.
[Riso]
[Riso]
Ah, claro.
Claro, claro.
Eu queria perguntar alguma... alguma outra coisa.
[Emissão] Bem, já, já é, já é um bocadinho tarde.
[xxx]
Iam para a es-, iam para a escola a pé...
Animais.
Vacas.
[xxx]
[xxx] as vacas.
Já nessa altura era à mão, [xxx] à lança.
É.
Uma pessoa puxava à frente e outra atrás, não |
Pois, mas mais tarde vieram os sachadores também, puxados às vacas.
Sim.
Pois... claro que não.
É.
A lavadura.
É.
Na Espanha não sei como é que dizem.
Pois o nome próprio é abóbora, a gente é que chama cocos.
Não, não se lavava a louça com detergente.
Não se lavava a louça com detergente.
[xxx] que aproveitavas aquela lavadura do...
[Riso]
[xxx] a gente... a gente [xxx] detergente para | também para... para a lavadura... que é para [xxx], não é?
Não havia cas-, não havia uma casa de banho também, [xxx] era uma retr-, uma retrete de fora... da casa.
E o, e o | até o banho.
Era um...
[Riso]
Eu sei, eu sei também.
Um leitão.
É uma cria, sim, uma cria.
Para cebar, "vou comprar um porquinho para cebar".
Um bocadinho de azeite [TranscrDuvidosa].
Lavadura.
As couves.
O cozido que é...
É.
[Assent]
Umas folhas.
Agora o cozido é para comer [Riso].
Mas tinha que se ter um ano havia que té-los.
Um ano, agora cresce em trés, quatro meses.
Era em maio, em maio [xxx].
[xxx] [Riso]
E matava-se em cima de um carro de bois.
Vinho.
Para cozer, para cozer... sarra-, sarrabulho.
O sangue, para fazer os chouriços de sangue.
Ainda hoje fazemos.
Sim... quatro homens.
Ou a | às vezes faziam do matador gato e sapato... levavam-lhe uma serra... | lembras-te o Giraldo?
[xxx], o que eles faziam com o Giraldo... [TranscrDuvidosa]
Eu também nunca assisti.
Estas | [TranscrDuvidosa]
É.
Com palha centeia.
Agora chamusca-se com maçarico, não é?
É um coiso de gás que dá chama.
Era.
Depois levava o seu banho, lavavam-no.
Na boca metiam-lhe uma pedra.
Para não fechar a boca metiam-lhe uma pedra.
Não é?
Diziam "Vamos, vamos ver o tio [xxx]".
Depois penduravam, abriam, eh, as mulheres desfiavam as tripas... e iam para o regueiro de lavar as tripas... para fazer chouriços.
[xxx] "Vamos aproveitar o... sangue da papada".
Horror é... quando, quando eles matam na pocilga e põem ali o porco, que [xxx], eu nunca assisto, eu nunca assisto, ah... [xxx]
[xxx]
Penduram o porco por uma perna, depois [xxx] penduram-no das mãos assim [xxx], e o focinho a outra argola é como ver uma cruz.
Ai, eu não posso.
Um frango.
[xxx] "Venha-me acadar o sangue, [xxx]".
Eu é engraçado, eu mato... frangos |
[xxx]
Porque no dia anterior não se podia dar comida para ele não ter as tripas muito cheias.
Ainda falta [xxx], tenho que ir embora.
[xxx] mas... é noite.
Havia trés também aqui. [TranscrDuvidosa]
E vacas também [xxx].
Vacas.
Pois, é...
[Assent]
Era?
[Assent]
E também davam leite... para a alimentação e isso.
Pois, [xxx].
[xxx]
Pois, não havia máquinas.
À mão, sachavam [TranscrDuvidosa].
É, é, é.
Lavaduras, é.
Mas na Espanha não chamam abóbora?
É o caba- | a calaba-, a calab- | é isso.
Não havia químicos, não havia químicos.
[Riso]
[Riso]
[xxx], ó filha, que queres?
[xxx], queres tirá-lo?
[Riso]
Era melhor... que agora com os detergentes.
Pois, o ambiente... é, e os rios e tudo, [xxx].
Ela também sabe do ambiente, ela [xxx] o ambiente.
[Riso]
Também era uma bacia.
É.
A Beatriz sabia, ou esta senhora sabe bem também.
[xxx]
Leitão.
[Riso]
Pois, não havia farinha, comiam com farinha milha... não havia farinhas de agora | como agora.
Em julho.
E lá está, está com as cortes debaixo das casas.
Devia haver jeiras, não havia [xxx]?
[xxx] [Riso]
Como fazem na Espanha, também fazem assim.
[xxx]
O resto do sangue.
As morcelas.
Ainda hoje se faz.
Ela já criou... o porco.
Pois, mas precisava de pessoal para segurar neles... pois, para pegar.
Que soubesse.
À primeira [Riso].
[Riso]
Para gozar, era no gozo [Riso].
E depois era chamuscado.
É...
Era, de centeio.
Depois |
Pois, para [xxx].
[xxx]
Era, para tirar |
[Riso]
[Riso]
Era... [xxx] era uma lixeira.
É, é, é, ainda me lembro de estar ali o dia que chamuscaram fora, no...
Para depois fazer chouriços.
De encher.
[Assent]
Era.
[Assent]
Tiravam.
[xxx]
[xxx]
[Riso]
Ai...
Quando eles matarem.
Ela nunca quer segurar, ela nunca quer segurar, eu é que vou segurar [xxx] [Riso].
Ela faz-lhe impressão e eu não, ela até para matar uma galinha, às vezes tenho que ir eu lá matar-lhe a galinha [Riso].
Ai, eu mato.
É, nós mete dos galos [TranscrDuvidosa].
Ai, eu fui e é uma maravilha.
E tem que ser.
Alguém tem que matar.
Ela é assim, "Ai, venha-me matar um, um | uma galinha" [Riso], lá vou eu, lá [xxx] [Riso].
[Riso]
Ai, eu vou.
Ai, e- |
Porque o criava.
Já sabia.
Pois é noite.
E ele já sabia.
[Riso]
[Riso]
[Riso]
[Riso]
Os animais, coitados.
Todo contente.
Ainda falta muito?
É que é noite.
Já é muito tarde.
É muito escuro já, é escuro para nós.
Do campo.
Vivíamos do campo, quase toda a gente -não é?- e do campo se tirava... o essencial para a alimentação.
Criava-se... animais, mataba-se um porco, tinha-se as galinhas, tínhamos ovelhas, tínhamos cabras... e gado, gado bovino, os bois.
E depois já criavam antigamente com b- | primeiro era bois.
Era, grandes bois.
E depois... os bois começou [sic] a... a cair mais en desuso, talvez porque eram mais corpulentos e as pessoas f- | iam ficando mais velhas, depois começaram a usar mais o, o... | as vacas -sabe?
Eram mais, mais mansas... e, e depois... [Emissão] depois também davam leite para, para, para a alimentação... e assim.
E depois chegou-se a um ponto que, quando se chegou a essa situação de ser só as vacas, já cada, cada casa já só tinha uma.
E depois [Emissão] ia | quando era preciso ir ao campo, ia-se à vezinha, pedir a da vizinha do lado para cangar [Riso].
E faziam-se os trabalhos.
Não havia tratores... o gado, o gado é que labrava, fazia a agricultura toda.
Labravam os campo, gradavam, semeava-se... | depois as sementeiras já depois estava tudo labrado e gradado.
Ou então semeava-se antes de gradar, que era para as sementes chegarem lá enterradas... na leiva [TranscrDuvidosa] da terra -sabe?
Depois, ultimamente |
É.
Depois começou-se a usar |
A lançar assim a semente.
E depois mais tarde começou-se a usar uma s-, uma semeadeira.
Punha-se a semente numa... | num tipo de um carrinho... lança a semente [TranscrDuvidosa].
Pronto, era tudo manual.
Depois sachava-se... depois | à mão... depois era regado...
Também, m-, mas já, mas já era um trabalho já muito aldrabado... q- | já não era a mesma coisa, ficava a herva do | a pé dos milhos, ficava tudo.
[xxx] era o que se |
[Riso]
Lavadura.
Lavaduras.
É.
E depois eles comiam os | o, o | as abóboras, os cocos, que agora chamam abóbora, naquele tempo ninguém, ninguém utilizava o nome de abóbora, eram cocos.
Mas antigamente |
Exato, exato.
E comiam então as lavaduras, comiam esses cocos, comiam couves e comiam... restos e... comiam essas coisinhas.
Não, não.
Sabe o que se punhas às vezes?
Um bocadinho de sabão....
A gente fazia assim com o sabão, punha um bocadinho nessa água quente, porque a água... tinha que ser quente, quando se punha por cima da louça, até fazia tchis... [Onom] no, no barro, verdade!
Ui, então a sua sogra era danada para isso.
Era.
Pois, mas levava assim um bocadinho e fazia-se assim com aquele bocadinho de sabão nas mãos, só um nada, só para dizer que não estava lá nada
Despois lavava-se ali aquela loucinha com aquela água a escaldar... eh?
A gente às vezes até tinha que pegar assim no prato -não é?- meter assim, ficar com ele preso numa ponta, fazia ali, tirava para um lado... para ficarem...
Olhe, se calhar... não era pior que hoje com os detergentes.
Ai, não havia nada, não havia casas de banho...
Eram umas retretes fora, onde a gente ia lá fazer... as necessidades que... tinha falta.
E lavava a cara numa | num alguidarinho...
E o banho também.
Uma bacia.
Eu ainda os meus filhos, quando vinham aqui de férias ainda era, eu na altura ainda não tinha casa de banho, era um alguidar grande, punha-os ali dentro, ala, [xxx] e vamos embora! [TranscrDuvidosa]
Olhe, é | o porco era assim... comprava-se pequenino.
Era um... um leitão.
Mas [Emissão] comprava-se um | uma cria, chama- | já não chamava leitão... ch- | é uma | "vou comprar um porquinho", uma criinha pequena... para cebar.
Então trazia-se para a corte -não é?-, ia-se a, a Monção, à feira... comprar, a minha mãe ainda comprou muitos na feira.
Comprava-os na feira, trazia-os numa carrocinha, que era aqui um senhor que tinha uma carroça com cavalo, o Senhor Abeu [sic], traziam os porcos naquela carroça, entravam na corte, começabam então a dar comidinha... adequada, era uma agüinha morna com uma farinhinha... de | milha, ali desfeita...
E... pronto, e o animal lá ia bebendo aquela farinhinha, aquela agüinha morna... depois iam começando a deitar então o | os tais | as tais lavaduras, o coco, a... | as couves, a herva, também gostavam de uma hervinha tenra, o cozido, a soagem... e os pampulhos, soagens e pampulhos.
É a soagem assim... | na | é rente ao chão, é um... | uma herva rente ao chão.
E depois deita assim umas, umas, umas folhas, umas folhas, mas aquilo é muito bom para os animais.
Depois é o pampulho, também é assim uma, um cozido, chamamos um cozido... do porco... é uma hervinha tenra.
Eles comiam aquilo tudo, devoravam aquilo tudo.
Era.
Era farinha milha.
Nada, não havia nada, era farinha milha.
E... e os cocos.
E criava-se ali uns grandes porcos, não [xxx].
Ai...
[Emissão] Às vezes não, é | bastava, por exemplo, comprava-se ai... por exemplo, um... f- | março, febreiro, febreiro, março, ai, até novembro criava-se um grande porco, nós fazíamos ali com cada, cada porco na nossa corte, chegamos a ter lá dois, dois, e a minha mãe vendia um ao Cândido [TranscrDuvidosa] de Valadares, o pai de Graça... | e as cortes debaixo das casas.
Grande, porque eles comiam tudo, a minha mãe semeava muitas favas... | dava, e a-, apanhavam aqueles braçados das favas... com o pé e tudo, ala para a corte, eles comiam tudo... já quando eram... c- | grandes.
É.
E depois, no dia da matança... preparavam uma baciazinha com louro, com alho... [Emissão] para o sangue, só... para fazer o sangue, aquele ta- | aquele sangue -sabe?- chamam verde, chamam-lhe verde, sarrabulho.
Aquilo era só o louro... e o alho, e o alho.
Apanhabam um pouco desse sangue para numa baciazinha, [xxx] assim, um alguidar, eram alguidares de barro, para um alguidar de barro.
Retiravam aquilo sem mais mexer, retiravam para um lado, que era para o sangue talhar, não ficar ali a...
Depois tinham outro alguidar com vinho, com alho, com sal, com louro, para apanhar para cozer os chouriços.
O resto do sangue.
É, e eu nunca mais fiz elas, ela por acaso já tinha pocilga e fazia essas coisinhas.
E... e pronto, e depois, ao fim, tiravam o, o animal de cima de um, de um carro dos bois... era morto em cima de um carro de bois.
Ai, sim, sim, sim.
Vinha um matador, especializado mesmo, tinha que ser um matador... que acertasse logo ali, que era para, que era para ele largar o sangue todo.
Eu, eu, eu...
Um | uma vez levaram um [xxx].
[Riso]
Mas eu, eu se queres que te diga, nunca assisti uma matança do porco.
Não tenho coragem.
Era com a palha centeia.
Com palha centeia.
Pois.
Punham o...
Antigamente era com a palha centeia, punham o animal no chão, acendiam uns molhinhos de palha centeia, começavam com aqueles molhos assim, no lombo do porco, zumba [Onom], para trás, para a frente, para t- | que era para não cozer o courato, era sempre a fugir, sempre, sempre, sempre, sempre.
Depois... despois com uma enxada, uma enxada, raspavam, para tirar aquele sujo da, da, da palha que ficava agarrado -não é?- raspavam com a enxada, com agüinha, tirabam aquilo tudo...
Depois o resto do molhinho punham nas patas, das da frente e nas de atrás, que era para tirar a | aquela... aquela unha, as unhas... ai, pois é.
Ai, pois é.
Eu [xxx] fazer, fazer, é, é, é.
Era, era, era engraçado aquilo, era engraçado.
E um chiqueiro, que faziam as portas...
Ai, havia aquela água negra, daquela de, de, de [xxx].
É.
Cortavam aquilo, cortavam ali assim a barriga, até aqui a parte da... | das mãos, [xxx] mãos da frente [xxx] das patas.
Depois faziam um gope [TranscrDuvidosa], assim, na papada, um gope até aqui ao f-, ao f-, ao focinho... e depois tiravam aquilo tudo junto.
Depois com uma bac- | com uma caneca... de água e vinho, lavavam aquela, aquela papada, lavavam aquilo tudo, era a água, esse sangue para fazer as chouriças, para as chouriças de sangue, para as farinheiras.
E o outro sangue, melhor, era para os de carne, para os chouriços de carne.
Depois tiravam as | depois punham um alguidar, bem, bem forte, ali nas, nas, nas mãos... do porco -não é?-, como estava pendurado, eles ficavam assim com as mãos, aqui em cima punham um alguidar para acadar as tripas, que aquelas tripas [xxx] o, o matador, e alá dentro do porco, via tudo para não as reventar, depois puxava aquilo tudo, vinha tudo junto, coração, os pulmões, o fígado, tudo agarrado aquilo, ah, era un horror.
Eu, eu já digo, para mim era... para mim era uma coisa que... [xxx]
Eu não conseguia, eu não conseguia.
Ah, pois... eu também não mato, eu também não mato.
Nada.
[xxx]
Alguém tem que matar.
Ai, eu não consigo, eu não consigo, não.
Olhe, que, olhe, que, minha mãe era daquela idade...
Quando | na véspera de matar o porco, ela punh- | ela ficava doente.
Coitadinha, dizia ela assim: "Eu estou doente só de me lembrar que amanhã tenho que matar o porco".
Porque era ela que o... que o criava, e ele mal ouvia [TranscrDuvidosa] |
Ai, era tão, era tão engraçado.
Às vezes a gente estávamos em cima a fazer serão, na casa... a fiar, fiar o linho, a... a fazer aquelas coisas do linho, a minha mãe, e nós fazíamos qualquer coisa e às vezes também ajudávamos, e bastava a minha mãe levantar-se, dar ali uns passos na casa, e o | como o quarto dela era ali naquela varanda, e a corte era do outro lado, e ele começava logo [Emissão] [Emissão] [Emissão], e a minha mãe dizia assim: "Ai, se calhar ainda tenho que lhe ir pôr lá um bocadinho de farinha".
E ia... "Ô, mãe, mas o porco já se |"
Ainda ela ia por farinha, tinha um vício a minha mãe com os animais... ela adorava os animais, adorava tratar daquilo.
E então ela chegava lá, "Maluco, maluco, sai para lá, sai para lá", começava-lhe a fazer asssim, umas festinhas assim, assim, e... ele deitava-se todo, todo contente.
Ai, eu também tenho que ir embora [xxx] também.
[Emissão]